sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ELE NASCEU HÁ 100 ANOS

ELE NASCEU HÁ 100 ANOS

Há seguramente cem anos, surgia no bairro da Cidade Nova, no Rio de Janeiro, uma forma de tocar musica dançante destinada a transformar-se, sob o nome de choro, na primeira grande contribuição dos artistas populares brasileiros à criação de um estilo musical realmente nacional.Reunidos à volta do flautista mulato Joaquim Antonio da Silva Calado (1848-1880), músicos como Viriato Figueira da Silva, Patola, Saturnino, Silveira e Luizinho, especialista na invenção de modulações sestrosas e complicadas, para "derrubar" os acompanhadores, descobriram meio século antes do jazz que era possível transformar a musica num jogo criativo, embora exigindo para ser praticado é bem verdade um nível de talento muito proximo do gênio.A base da flauta, violão e cavaquinho, e logo de lofclide (que entrou avassaladoramente fazendo contracanto), esses artistas estruturaram um estilo tão soluçante nas passagens melódicas sobre os graves a chamada baixaria dos violões que já em 1889 a compositora Chiquinha Gonzaga podia batizar oficialmente a invenção, ao escolher para um de seus "tangos característicos" o titulo Só No Choro. No século que se seguia a essa criação dos músicos populares cariocas, na maioria mestiços em processo de ascenção social, o choro revelou artistas da grandeza de Sátiro Bilhar, João Pernambuco Tute e Dino (violões); Lula Cavaquinho e Nelson Alves (cavaquinho); Patápio, Pixinguinha e Altamiro Carrilho (flauta); Acioli e Bonfiglio de Oliveira (pistão), entre centenas de outros. E quando seu ultimo grande animador Jacó do Bandolim morreu no Rio de Janeiro, alguns jornais escreveram que com ele morria também o choro representante de uma época de ouro (e esse era, por sinal, o nome do conjunto de Jacó, após sua morte liderado pelo violinista Dino).Pois quando a invasão alucinante dos ritmos estrangeiros, estourando nas vitrolas, fazia crer que esse vaticínio se cumprira, a descoberta de um conjunto de músicos amadores no bairro paulista da Casa Verde em pleno ano da graça de 1973 vem revelar um milagre do misterioso rio da tradição popular: resistindo à onda de todas as modas musicais impostas pelo impacto da maquina industrial, do "jazz band" ao "rock rural", o choro brasileiro continua vivo. E canta e contra canta criativo como nunca, a beira do Tiete.

QUEM É QUEM NA HISTÓRIA DO CHORO


QUEM É QUEM NA HISTÓRIA DO CHORO

CaladoFlautista, autor de "Lundu Característico" (1873), foi um dos responsáveis pela popularização da polca e do maxixe. Reforçou a idéia de competição entre instrumentistas, comum à época.

Patápio Silva Ficou famoso por ser o primeiro flautista a fazer um registro fonográfico. Aventureiro, conta-se que teria morrido envenenado pelo bucal de sua flauta, por motivos passionais.

Anacleto de Medeiros Misturou o scottisch e a polca com sonoridades brasileiras. Orquestrador habilidoso, traduziu a linguagem das bandas para as rodas-de-choro.

Chiquinha Gonzaga Primeira mulher a atuar no chorinho como compositora e pianista. Trocou o casamento pela música. Abolicionista e maestrina de teatro de revistas, montou selo e lançou novos artistas.

Ernesto Nazareth Músico de trajetória erudita, ligado à escola européia de interpretação. Fixou os formatos do tango e valsa especificamente brasileiros, com a introdução do lundu nos mesmos.
João Pernambuco Trouxe do sertão sua forma típica de canção e enriqueceu o choro com elementos regionais. Colaborou para que o violão deixasse de ser um mero acompanhamento na música popular.

Pixinguinha Deu ao choro sua forma musical definitiva. Como instrumentista e compositor, modernizou o tratamento da música popular e difundiu o contraponto. Atuou com destaque como arranjador.

Garoto O violonista paulistano foi estrela da fase áurea das rádios cariocas. Fundiu o choro com o jazz e a música de concerto em arranjos de alta complexidade técnica.

Jacob do Bandolim O bandolinista carioca promoveu o resgate de autores e repertórios antigos, adaptações de partituras para o bandolim e fez inúmeras composições. Criou o mítico conjunto Época de Ouro.

Waldir Azevedo O mais popular artista do choro. "Brasileirinho" e "Delicado" estouraram nas rádios. Explorou de forma inédita as possibilidades do cavaquinho.

Radamés Gnattali O maestro, com projetos como a Camerata Carioca, modernizou a forma clássica e rígida do choro, tornando-o flexível e aberto a fusões com outros elementos, como o jazz e o pop.

Joel Nascimento Ao lado do também bandolinista Déo Rian, o instrumentista é considerado um herdeiro legítimo de Jacob do Bandolim. É responsável por importantes registros nos anos 70 e 80. Seu principal álbum, "Chorando pelos Dedos", foi considerado inovador no gênero.

Música Popular do Brasil


Música Popular do Brasil

Dizer que a música popular feita no Brasil é caracterizada por sua riqueza é repetitivo, mas é essencial para defini-la.
Sua história começa com os índios e com a música feita pelos jesuítas que aqui aportaram. Esse encontro entre a música dos jesuítas e a música dos indígenas é a pré-história da música popular do Brasil. A evolução desses ritmos primitivos, como o cateretê ou o cantochão, são ainda hoje tocados em festas populares.
A música popular do Brasil só se tornaria mais forte no final do século 17, com o lundu, dança africana de meneios e sapateados, e a modinha, canção de origem portuguesa de cunho amoroso e sentimental. Esses dois padrões, a influência africana e a européia, alternaram-se e combinaram-se das mais variadas e inusitadas formas durante o percurso que desembocou, junto a outras influências posteriores, na música popular dos dias de hoje, que desafia a colocação de rótulos ou classificações abrangentes.
Durante o período colonial e o Primeiro Império, além dos já citados lundu e modinha, também as valsas, polcas e tangos de diversas origens estrangeiras encontraram no Brasil uma nova forma de expressão.
Já no século 19 surgem os conjuntos de chorões, que adaptam formas musicais européias -como a mazurca, a polca e o scottisch- ao gosto brasileiro e à forma brasileira de se tocar essas construções. Surge então, a partir da brasileirização dessas formas, o choro, e firmam-se novas danças, como o maxixe.
Outras duas coisas que ajudaram decisivamente o aparecimento da canção popular no Brasil foram o carnaval carioca e o gramofone. Pixinguinha, João da Baiana, Donga -autor de Pelo Telefone, primeiro samba gravado, em 1917-, foram grandes nomes nesse período, junto com os continuadores dos chorões.
O samba urbano só se firmaria na década de 30, época em que surge a primeira escola de samba, a Deixa Falar, fundada em 1929. Depois, com a popularização do rádio e do disco a música popular se consolidaria e chegaria ao mundo de opções musicais que hoje o Brasil possui.Renato Roschel do Banco de Dados